O impacto da pandemia de covid-19 na circulação de veículos

Estudo de caso na cidade de Santo André/SP

Este estudo se propõe a publicizar dados de volumes de tráfego coletados no mês de abril de 2021 na cidade de Santo André/SP, portanto dentro do período de isolamento social imposto pela pandemia de covid-19, e compará-los a dados dos mesmos locais em período anterior à pandemia, afim de obter um panorama de como estes volumes de tráfego, separados por tipo de veículo e período do dia (hora de pico da manhã e da tarde), se comportaram.
Pretende-se com esta publicação auxiliar os profissionais do setor de planejamento urbano que empregam volumes de tráfego de veículos em seus trabalhos e obter uma metodologia em que se possa neutralizar o efeito da pandemia em contagens classificadas de veículos realizadas neste período de restrição de circulação.

Originalmente estas pesquisas foram utilizadas de forma isolada em três Relatórios de Impacto de Trânsito (RIT) de empreendimentos residenciais a serem implantados nesta cidade, com o intuito justamente de conceder credibilidade aos volumes de tráfego coletados em campo durante o período de pandemia. Acreditamos ainda que este método possa ser utilizado futuramente para corrigir variações de volume de tráfego em função de outros fatores como ocorrência de férias ou recesso escolar, realização de obras relevantes no entorno do local pesquisado, entre outros.
Importante ressaltar que as medidas de restrições em função da pandemia de covid-19 no Estado de São Paulo tiveram início com a promulgação do Decreto 64.881, de 22 de março de 2020, portanto em período após a realização das contagens de veículos que utilizamos como parâmetro neste estudo para compor o cenário anterior à pandemia.
Durante a realização das contagens de tráfego em 2021 o Estado de São Paulo estava sob a Fase Vermelha – Emergencial do Plano São Paulo, destinado a estabelecer regras para o combate à covid-19, em especial determinando quais estabelecimentos comerciais e de serviços poderiam realizar atividades e como deveria ocorrer o atendimento ao público, caso este seja permitido.

No momento da realização das contagens de veículos as seguintes restrições estavam impostas, entre outras:

• Vedação de realização presencial de cultos, missas e demais atividades religiosas de caráter coletivo
• Recomendação do desempenho de atividades administrativas internas de modo remoto em estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços não essenciais
• Recomendação de escalonamento de horários de abertura e de troca de turnos em estabelecimentos comerciais ou prestadores de serviços, observando os seguintes horários:

Abaixo destacamos a localização das três interseções que foram alvo deste estudo comparativo.

São elas:

• Interseção 1: Av. Industrial X Vd. Pedro Dell Antônia
• Interseção 2: Av. Santos Dumont X Av. Firestone
• Interseção 3: Av. Guaratinguetá X Av. Sorocaba X Av. Ayrton Senna X Av. Itamarati

As contagens de tráfego em período anterior à pandemia foram cedidas pelo Departamento de Engenharia de Tráfego da Prefeitura de Santo André, de forma a subsidiar os referidos Relatórios de Impacto de Trânsito. As datas de realização das contagens são as seguintes:

Utilizamos como parâmetro o volume total aferidos nos seguintes períodos:

Interseção	Anterior à pandemia	Durante a pandemia
Interseção 1	13/12/2019	22/04/2021
Interseção 2	04/02/2020	15/04/2021
Interseção 3	09/03/2020	07/04/2021

Utilizamos como parâmetro o volume total aferidos nos seguintes períodos:

• Período da manhã: 06h30min às 09h00min
• Período da tarde: 17h00min às 19h30min

Decidimos trabalhar com o volume de todo o período de pesquisa em detrimento do emprego apenas do volume da hora de pico, pois na situação anterior à pandemia esta hora de pico tende a ser mais concentrada, o que traria uma discrepância no cenário atual onde, a priori, há maior liberdade de escolha do momento de realizar a viagem, em função da menor restrição imposta por ocorrência de congestionamentos. Em relação a hora de pico verificamos o seguinte.

Interseção	Anterior à pandemia	Durante a pandemia
Interseção 1 – Manhã	07h00min às 08h00min	06h45min às 07h45min
Interseção 1 – Tarde	17h00min às 18h00min	17h15min às 18h15min
Interseção 2 – Manhã	08h00min às 09h00min	07h15min às 08h15min
Interseção 2 – Tarde	17h45min às 18h45min	17h15min às 18h15min
Interseção 3 – Manhã	07h00min às 08h00min	07h15min às 08h15min
Interseção 3 – Tarde	17h45min às 18h45min	17h00min às 18h00min

Para obter estas horas de pico tivemos que considerar os seguintes fatores de equivalência de veículos:

Veículo	Fator de equivalência
Automóvel	1,0
Ônibus	2,0
Caminhão	2,0
Motocicleta	0,5

Podemos observar que em todos os casos houve variação da ocorrência da hora de pico, porém sem nenhum padrão detectável, ou seja: ora mais cedo, ora mais tarde. Esperava-se que esta ocorrência fosse se dar mais tarde na hora de pico da manhã e mais cedo na hora de pico da tarde, o que evidenciaria um comportamento compatível com a diminuição dos tempos de percurso, em virtude da diminuição dos volumes de tráfego nas vias, porém esta característica não obteve amparo nas pesquisas realizadas.

Considerando a totalização dos volumes dentro dos períodos citados para manhã e tarde e os fatores de equivalência de veículos descritos acima, temos a seguinte variação de volumes nas três interseções pesquisadas.

• Interseção 1 – Av. Industrial X Viad. Pedro Dell Antônia

Características funcionais da interseção: localizada no centro da cidade, em via importante de ligação do 1º com o 2º subdistrito.

• Interseção 2 – Av. Santos Dumont X Av. Firestone

	AUTO	MOTO	ÔNIBUS	CAMINHÃO
Manhã	-23,02%	-7,44%	-25,51%	+19,20%
Tarde	-21,04%	+3,15%	-37,12%	+50,51%

Características funcionais da interseção: localizada próximo ao centro da cidade, em via com predominância de trânsito de passagem, com alta importância para o sistema de transporte coletivo.

• Interseção 3: Av. Guaratinguetá X Av. Sorocaba X Av. Ayrton Senna X Av. Itamarati

	AUTO	MOTO	ÔNIBUS	CAMINHÃO
Manhã	-27,14%	-13,27%	-37,14%	-20,97%
Tarde	-13,77%	+9,40%	-50,00%	+10,71%

Características funcionais da interseção: localizada em um centro de bairro da cidade, em vias sem predominância de trânsito de passagem.

Todas as interseções estão em locais com significativa ocupação de uso de solo por estabelecimentos comerciais e de serviços, portanto com capacidade de atrair viagens de outras regiões próximas, em menor ou maior grau de amplitude.

Diante dos resultados apresentados podemos citar as seguintes conclusões:

a) A variação da circulação de automóveis é sempre negativa, em maior grau na interseção 1, que está intimamente ligada ao centro comercial da cidade, onde os efeitos das medidas de restrição são mais efetivos. Esta variação tende a ser maior no período da manhã, que concentra uma porcentagem maior de viagens do tipo casa-trabalho

b) O fluxo de motociclistas circulando acompanhou, em menor grau, a diminuição de volume de tráfego dos automóveis no período da manhã. Creditamos uma porcentagem menor do que no caso dos automóveis a uma provável transferência de viagens do sistema de transporte coletivo para o uso de motocicletas, visto a maior exposição a contrair a doença no primeiro caso.  No período da tarde houve um leve aumento da circulação deste tipo de veículo.  Acreditamos que esta ocorrência atípica no período da tarde esteja interligada com o aumento de pedidos de entrega de mercadorias pelo serviço de delivery

c) Há uma evidente redução da frota circulante de ônibus, tanto no período da manhã quanto no período da tarde, explicada pela redução da demanda por utilização deste modal e a incapacidade financeira de manter a frota original circulando, o que seria bastante desejável para promover o distanciamento social e a redução dos níveis de contaminação.

d) A circulação de caminhões teve um comportamento totalmente distinto nas três interseções, tendo redução em ambos os períodos na interseção 1, provavelmente influenciada pela restrição ao funcionamento das atividades comerciais e de serviços predominantes na região central, um aumento de volume nos dois períodos na interseção 2, que tem como principal característica a predominância do tráfego de passagem e redução no período da manhã e aumento no período da tarde na interseção 3, que é caracterizada por estar localizada em um centro de bairro do município

De uma forma geral podemos aferir que os efeitos da redução da circulação de veículos foram mais sentidos na região central da cidade, onde há maior concentração de estabelecimentos comerciais e de serviços, em especial de escolas particulares.

Em eixos de ligação de regiões da cidade de caráter intermunicipal a redução do tráfego de automóveis, que compõe a grande parcela de volume na composição de tráfego, gira em torno de 25% no período da manhã e 17% no período da tarde, que julgamos ser uma redução muito baixa comparada ao que se esperaria da fase do Pano São Paulo que estava em vigor no momento da realização das contagens.

Em função da falta de uniformidade no comportamento destes parâmetros, sugerimos que sempre que possível seja feita a correção de volumes de tráfego de contagens realizadas durante a pandemia de covid-19 empregando dados do local, com a mesma metodologia aqui proposta, isolando os tipos de veículos e os períodos avaliados. Na ausência de uma contagem de veículos realizada em período anterior à pandemia, para que sejam utilizados os dados aqui expostos, é estritamente recomendável que seja avaliada a aderência entre as características funcionais das vias que compõe o cruzamento e o uso de solo lindeiro.